terça-feira, 6 de junho de 2023

TECLADOS

 

 

- Lozinho...

- Mãe?!!!

- Tudo bem, meu filho?

- Como a senhora quer?

- Como assim? Estou querendo saber como as coisas andam por aí...

- Depende da narrativa...

- O quê?!!!

- Nunca fatos importaram tão pouco, mãe. As versões que se propagam é que passam a constituir a realidade...

- Mas sempre foi assim, meu filho...

- É que agora, com a tecnologia, as estratégias de massificação de interesses tornaram-se assustadoras...

- Goebbels...

- Pior, mãe.

- Tome cuidado, Lozinho.

- Estou reduzido à minha insignificância...

- Não fale assim, meu filho.

- Estou vivendo no sítio, recluso com meus fantasmas. E está sendo bom de doer.

- Não vá viver igual à sua mãe, hein...

- Agora que a senhora me diz isto?

- A solidão, às vezes, é nutriente, né?

- Outra coisa herdada foi jardim...

- E eu gostava mesmo, era toda a minha alegria... Minhas roseiras...

- A senhora precisava estar aqui para ver os meus jardins...

- Posso imaginar, meu filho.

- E tem os netinhos, cada um mais amoroso e interessante.

- Adoraria tê-los conhecido.

- A menorzinha, a Lelê, participou de um recital de piano promovido pela escolinha.

- Que maravilha, meu filho!

- Ela ainda não deixou marcas nos teclados, só tem dois meses de aula...

- Sei, mas se começou é só seguir, né?

- Mãe, esteve um coleguinha dela da mesma idade, sete anos, arrebatador.

- Arte, Lozinho.

- Momentos como aquele é que ainda me valem a pena...

- Beijos, meu filho, fique bem.

- Estou bem, mãe. Beijo procês daí, também.





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