quarta-feira, 26 de abril de 2023

JOIAS

 




Eu tinha uns quinze ou dezesseis anos, trabalhei como secretário de um representante de joias fabricadas na Zona Franca de Manaus. Demorou um tempo para eu sacar porque ele pedia para eu carregar a sua pesada maleta contendo os produtos.

Embarcado havia peças contrabandeadas.

O escritório era numa saleta. Minha mesa ficava à frente da dele. Certa vez um vendedor de jazigos entrou e me ofereceu a coisa. Eu disse que era muito novo pra investir naquilo e o sujeito pediu para falar com o “capo”.

Foi colocado pra fora aos gritos: “Eu já falei com minha família que quando eu morrer quero ser jogado no lixo. Ninguém vai gastar nada com isto!”

As escapadas na rua não eram frequentes o que me permitia ficar no escritório, quase sempre sozinho. Enquanto estive ali, alimentei o meu sonho: escrever.

Escrevia em profusão, um monte. E acreditava que um dia poderia me tornar um escritor, destes de livros publicados e que tais.

Hoje fiquei sabendo pelo jornal que não há exatamente um salário pago pela Academia Brasileira de Letras para seus membros. O que há são jetons, remuneração por comparecimento às sessões da casa.

Para as reuniões de quinta-feira, que incluem o famoso chá dos imortais, o valor é R$ 1.100. Para as de terça, R$ 400. Era um pouco mais antes da pandemia.

Eles também ganham plano de saúde, pagamento do funeral e uma vaga no mausoléu da Academia Brasileira de Letras.

Caso eu chegue lá posso abrir mão do pagamento do funeral.



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