quarta-feira, 25 de março de 2020

BOTÃO





Estou dando um tempo para que o tempo retempere outro tempo. Tempestivamente, urgentemente. Assim mesmo, reiteradamente.

Mais do que quarenta dias, para uma reflexão que forje outros quereres, outros pensares, outros sentires.

Ontem passei a manhã em reuniões via Skype com clientes. Estou em Santa Luzia, em minha morada rural onde o tempo difere muito de BH, lugar em que vivo a maior parte de minhas horas.

Próximo da hora do almoço resolvi me vacinar contra a influenza. Cheguei ao Posto de Saúde às 12:02h e a atendente me disse que a vacinação seria interrompida para que a enfermeira fizesse o seu horário de almoço, iniciado às 12:00h. Que eu voltasse às 13:30h.

Fui a minha casa e almocei. Às 13:20h estava de volta ao PS. Na minha frente doze pessoas aguardavam o pico. O tempo médio de aplicação foi calculado em 4 minutos. As 13:44h, tendo vacinado seis pessoas que estavam a minha frente na fila, a enfermeira saiu da sala de atendimento e comunicou a mim e aos demais que aguardavam na fila  (6 a minha frente e 15 pessoas atrás), que a vacina tinha acabado e que a gerente iria buscar mais.

Durante os cinquenta minutos que se seguiram até o retorno da profissional com vidrinhos contendo a porção imunológica e miraculógica, houve um frisson geral entre os velhinhos.

- Este é o Brasil!

- Um absurdo!

- É assim que somos tratados!

Alguns muito alterados com seus dedos em riste. Incitavam outros que chegavam ao PS adensando a aglomeração. Na recepção um cartaz convidava para a temperança: “Desacatar servidor público no exercício de suas funções é crime”.

Saí de lá, vacinado também contra raiva, por volta das 15:00h correndo para casa. Estava agendado para outra reunião exatamente neste horário.

Às 17 e pouco fui para o jardim de minha casa e me deparei com um botão que apontava majestoso para cima. Coloquei meu olhar fixo sobre a maravilha e freneticamente desejei que ele se tornasse rosa no tempo que eu suportasse acompanhar o processo.

A gente sabe que não é assim o tempo.

Hoje pela manhã, por volta das seis horas, voltei ao botão. Ele ainda não se fez flor, está lá gozando o seu tempo de preparo, ensaia o perfume e a beleza que deixará para o tempo enquanto durar.


Até breve.

2 comentários:

  1. Sua marca registrada, começar um assunto, e mostrar outro, da raiva da fila, a espera paciente pela flor se abrindo. Lindo demais. Um abraço.

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  2. Linhas tortas, frases soltas, sentido ambíguo, tudo junto e misturado. Gosto muito do seu incentivo. Beijo, querida.

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