sexta-feira, 11 de outubro de 2019

ZAP






"Loucura é a saída de emergência! Você só precisa dar um passo para trás e fechar a porta com todas aquelas coisas horríveis que aconteceram… presas lá dentro… pra sempre.”
Coringa.

"Nós deixamos de procurar os monstros embaixo de nossas camas,
quando percebemos que eles estão dentro de nós".
Coringa


O cinema me fascina. Fosse outro eu teria o maior empenho em estuda-lo a fundo. Meu desleixo e minha preguiça intelectual me privam do sabor das entranhas que fazem a Sétima Arte.

Esse termo surgiu em 1911, dado pelo teórico e crítico de cinema pertencente ao futurismo italiano Ricciotto Canudo no "Manifeste des Sept Arts" (Manifesto das Sete Artes), documento que foi publicado apenas em 1923.

Através do manifesto, Canudo pretendia distanciar a ideia de que o cinema era um espetáculo para a massa, mas aproximá-la e integrá-la a categoria das Belas Artes, como a Música, Pintura, Escultura, Arquitetura, Literatura e a Dança. Para ele, o Cinema é uma arte “síntese”, uma arte total, que conciliava todas as outras artes.

Outro dia, propus aqui meu voto ao Nobel de Literatura para o Tarantino pelo seu Era uma vez... no Oeste. Não foi à toa.

Ontem fui assistir ao Coringa.

Toda Arte é maior quando sugere múltiplas interpretações. Esse filme, protagonizado pelo soberbo Joaquim Phoenix, nos permite infinitas abordagens.

Se Phoenix, que como um sol toma todas as cenas para si (os demais atores são como planetas orbitando em sua gravidade magistral), tivesse apenas se sujeitado à transformação física e criado a risada que provoca calafrios, seja pelo som emitido ou pela conjuntura de sua existência, já seria suficiente para um belo trabalho. Entretanto, ele vai além ao entregar uma variedade imensa de perfis multifacetados que compõem o personagem, provocando espanto e admiração em doses fartas.

Senti calafrios pelo que se configurava como uma interpretação ao longo da narrativa que propunha a loucura do Coringa, ou melhor, de Arthur Fleck como não apenas justificável, mas, sobretudo, quase perdoável. Acompanhamos a saga de Arthur a cada novo fracasso, assistindo à mudança da meiguice inicial rumo a um personagem cada vez mais duro e decidido, em todas as etapas de uma transformação decorrente muito mais dos vícios da sociedade do que por falhas suas.

“Sou eu ou o mundo está ficando mais louco?”

CORINGA nos deixa perplexos a partir daí. Este personagem ultrapassa a história de um homem e nos convida a pensar em algo que se torna a cada dia mais contundente: o declínio dos modelos civilizatórios.


Este CORINGA nos deixa uma tragédia sem heróis.


“Gothan se perdeu.”



Até breve.

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