sexta-feira, 3 de maio de 2019

RIO







Eu num divia era ter parado de escrever. Nunca!

Hoje tô aqui com as munhecas travadas, pelo medo de dedilhar teclados em busca de palavras ordenhadas. Putz, isso é bunito, não? Sentido duplo em ordem e ordenhas.

Pois é, num posso ficar sem botar minhas tetas a serviço daquele que me suga. Lá do mais fundo que meu fundo pode estar.

Minha dormência, interessante, não me trouxe dor. Apenas vazio, assim de um tamanho imedível, ou será iquântido, ou iquálido? Não sei, mas vazio.

O monólogo que assisti no último domingo só veio aumentar ainda mais a vastidão.

História fantástica da mulher que encontra um manuscrito contendo o relato autobiográfico de um general do Império Romano. Ele, o general, busca a Cidade dos Imortais cujo rio purifica da morte todo aquele que bebe de suas águas.

Lá pelas tantas nas andanças erráticas depois de banhar-se e saciar sua sede, sem saber que no tal rio, já tendo se tornado imortal, encontra um sujeito com quem adentra a cidade dos imortais.

Claro que num vou contar. A peça, baseada no conto O Imortal de Jorge Luis Borges, está em cartaz ainda e não será eu quem dará a pista do que rola lá dentro.

Se bem que pelo menos uma passagem posso citar. Passeando nos interiores da cidade o novo imortal depara-se com um homem dentro de um buraco com o olhar perdido.

- Por que ele está dentro desse buraco?

- Não sei.

- Está aí há muito tempo?

- Uns setenta anos...

Por que ele está dentro desse buraco é uma pergunta que me seca a boca e dá urros nos estômagos. Caramba, como a vida é cruel, ao nos cobrar sentido por estar aqui.

Nesse buraco.

Ou sair dele, e encontrar algum sentido.

Para terminar este post eu teria que relatar parte do epílogo da peça.

Melhor voltar para o meu buraco.


Até breve.


FICHA: O IMORTAL, baseada no conto de Jorge Luis Borges, com Gisele Fróes, dirigida pelos irmãos Guimarães. CCBB, Belo Horizonte, em cartaz de sexta a domingo até 26 de maio de 2019.

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