sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

FINITUDE



“A morte é indestrutível”. Manoel de Barros foi quem disse. Nada mais inexorável do que ela. Especialmente quando fora daquilo que parece ser razoável, natural, aceitável. A morte na velhice, tudo bem. Como dizia minha avó Eulália, “prá lá nós vamos”.

Ceifar a vida de um jovem de 29 anos é cruel. Foi com esta palavra que Carlos Augusto pai de Túlio, acolheu meus pêsames pela perda de seu filho vítima de um câncer raro.

Jovem cheio de vida, humor, alegria e de uma simpatia ímpares. Estava nos USA e foi atendido em um hospital de lá se queixando de fortes dores. Todos os exames foram feitos e não foi possível diagnóstico preciso.

A mãe, precavida, voou imediatamente para buscar Túlio. Foi em agosto deste ano. Retornou dois dias depois trazendo o filho. Desceu no aeroporto e de lá foi direto para um hospital. Novos exames e nenhuma constatação conclusiva até que os médicos resolverão abrir.

Aberto o corpo do jovem e feita uma incisão em um dos rins a maligna surpresa.

De agosto até a madrugada de ontem, Túlio fechou-se em seu sofrimento pedindo aos pais que não compartilhasse com ninguém a sua dor. De forma avassaladora outras partes do corpo foram tomadas retirando toda esperança.

Recebemos a notícia por volta da uma hora da tarde de ontem.

Passei o resto do dia e boa parte da noite pensando: como encontrar sentido em uma morte destas? Recentemente, em acidente aéreo, nos deparamos com a perda de dezenas de jovens no auge de suas vidas.

Mas foi um acidente trágico.

No caso de Túlio, não. Foi uma crueldade ou, no mínimo, uma brutalidade.

Claro que não é a primeira e nem será a última morte semelhante. Diariamente é provável que inúmeras vidas sejam abreviadas brusca e inexoravelmente em circunstâncias idênticas.

O sentido da perfeição perde nexo. O Criador é colocado em cheque pela simples pergunta: por que, meu Deus? Como entender este câncer? Especialmente por ser raro, parece que no Brasil foram identificadas menos de uma dezena de casos.

Nunca soube o que dizer em velórios.

Ontem, enquanto conversava com um dos tios de Túlio, amigo-irmão, eu tentava pensar em tudo, menos no que acabara de acontecer. Ouvia o choro alto e intenso da mãe, acolhida pelo outro filho. Ítalo, inconsolável.

Minha ingênua tolice me impõe uma queixa.

Por que, Deus?



Até breve.

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