segunda-feira, 5 de março de 2012

RELEVÂNCIA


Eu estive durante o carnaval fazendo reparos em nossa casa de Santa Luzia (vide ÓCIO) e, por não ter muita paciência com uso de protetores (tipo luvas) acabei machucando em diferentes partes da mão direita. Na semana passada, dando continuidade à manutenção doméstica estive fazendo rejunte em vários pequenos orifícios e fendas do piso da área de lazer, que se tornam desgastes comuns face ao tempo. Usei principalmente o dedo indicador, que, como subproduto da peleja, ficou com uma pequena escoriação.

Incrível como um minúsculo espaço do corpo impõe.

Para coçar o ouvido direito, abrir e fechar o zíper, digitar, enfim, a minúscula escoriação tirou as funções operacionais de todo o meu dedo indicador da mão direita. Além da questão estética que me levou, por inúmeras vezes, a ter que responder à pergunta:

- Onde você machucou o dedo, Agulhô?
Eu tenho um corpo inteiro para ser notado e inúmeras pessoas apontam a escoriação?


Meu carro é uma camionete cabine dupla. Ocasionalmente transporto pessoas que se acomodam no banco de trás. Há meses a porta traseira esquerda não abria se acionada pelo passageiro pelo lado de dentro. Eu descia da camionete e abria a porta por fora. Quando o passageiro descia, por algumas vezes eu repeti:

- Essa porta tá com defeito... Preciso mandar arrumar...

Domingo agora transportei meu sobrinho, o João Vitor, aquele mesmo nerd da poesia (vide POESIS e POESIS II). Ele sentou-se no banco de trás. No destino, quando João foi descer, a porta não abriu, naturalmente. Eu desci e fiz a mesma operação (abrindo a porta traseira por fora) e ia dizer a frase acima, quando o nerd apontou para uma pequena chave localizada na parte lateral da porta e disse:

- Agulhô, você está com a trava de segurança para criança acionada. Por isto eu não consegui abrir a porta...

Incrível como uma informação primária explicita a ignorância e suas inúmeras implicações.


Durante anos eu me relacionei com uma determinada pessoa de quem fui muito próximo. Isso implica em dizer que eu me dediquei incondicionalmente como amigo. Tínhamos uma convivência freqüente. Belo dia ele me pediu que o ajudasse a caminhar numa negociação comercial e eu fiz o lugar do outro, o interessado. Dramatizamos diferentes simulações de possibilidades e engendramentos que pudessem fazer com que o meu amigo obtivesse êxito na negociação. Eu sabia a data e o horário em que ocorreria o processo. Eu liguei perto de três horas após a agendada. Meu amigo estava eufórico porque obtivera êxito.

Dias depois, nos encontramos. Falamos muito a respeito e eu recebi dele rasgados elogios.  Aconteceu que surgiu algo que ele tinha que poderia se constituir numa oportunidade recíproca. Estávamos, eu e ele, de repente num processo agudo de negociação de interesses. Aquela determinada pessoa mostrou-se toda, usando de artifícios e manhas com as quais eu não compartilho.

Incrível como no confronto de interesses surgem pontos de afinidades ou de distanciamentos.


Eu e minha esposa (ELA) estávamos em Roma. Visitávamos a maravilhosa Fontana di Trevi. Em dado momento vi um policial abordar uma asiática franzina, mal vestida, ‘imprópria’ para o lugar. A única lembrança que tenho da experiência da visita àquela exuberante obra de arte foi a da forma violenta com que aquele policial tratou a pobre mulher.

Incrível como algumas situações nos levam do deslumbramento ao estupor.


Este post, inconcluso e singelo, decorreu da iniciativa de alguém anônimo que, pela palavra proposta a ser lavrada, se auto-explica.

Incrível como existem pessoas que conseguem tornar a outras úteis.

Grato.


Até breve.

3 comentários:

  1. Arrisco fazer uma radiografia:
    - Um pequeno machucado além de incomodar muito pode ser uma entrada para doenças sérias. O corpo, sábio, lhe avisa tornando a dor relevante.
    - Uma porta, aparentemente com problema de funcionamento, era irrelevante para um, mas que outro, com conhecimentos relevantes, trouxe a solução num piscar de olhos.
    - No conflito de interesses apresentado a amizade/honestidade não foi relevante para a outra parte.
    - Mesmo cercado pelas mais belas obras de arte do mundo o tratamento de um policial a uma desconhecida foi o mais relevante da viagem a Roma.

    Diagnóstico: precisamos estar atentos e conscientes das relevâncias de nossas vidas. Este conjunto de coisas relevantes formam nossa personalidade, não é mesmo?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gostei muito da proposta de radiografar um texto lavrado. E é mesmo uma viagem de ambos que nos propusemos a percorrer sobre uma palavra e especialmente esta.
      Gostei também da crítica anônima. O convite permanece: que cada um embarque segundo seu bilhete.

      Excluir