sábado, 10 de setembro de 2011

VAZIO

Na noite da última quarta-feira assisti no Canal Brasil o programa “Coisas pelas quais vale a pena viver”. A entrevistada de Domingos de Oliveira e sua esposa Priscilla foi a ATRIZ Fernanda Montenegro. O programa foi gravado no palco de um pequeno teatro com tomadas de cena quase sempre de Fernanda em primeiro plano e de costas para a platéia vazia.
Fernanda está com mais de oitenta anos.
Ao longo da impagável entrevista Fernanda relatou a formação de sua carreira. No início, o teatro era marcado pela disciplina da direção rigorosa aos pés do texto. Cada gesto, cada entonação da fala era medida, cada local para cada palavra ou frase era preciso e para tanto ensaiavam inúmeras vezes. E ela fez todos os mais importantes dramaturgos, com exceção de um ou outro, entre esses, Shakespeare. Numa intensidade extenuante: em uma temporada (um ano) fez quatrocentas apresentações, com duas sessões às sextas e sábados, e matinês pela manhã e duas sessões aos domingos.
Comentou o que é agora ver seus contemporâneos partirem e junto com eles levar parte da história e, também ela, ter que se preparar para sair de cena. Literalmente.
Em um trecho da entrevista ela falou do lugar do ator, do artista. Disse que se trata de um trabalho solitário, particular e que só se realiza pelo desejo inenarrável da figura humana que é um artista. “O que fazemos é desnecessário. Estar aqui (apontando a arena do palco) é, para muitos, absolutamente sem nenhuma funcionalidade prática”. Para fundamentar sua fala lembrou-se do tempo em que lutava junto com tantos outros pela liberdade e que, numa das várias reuniões com atores, surgiu a idéia de fazer uma greve. Não encenar, fechar o teatro em sinal de protesto. Ela disse que foi Fernando (Fernando Torres, seu marido, já falecido) quem abortou a idéia: “Não podemos fazer isto. Vai que acostumem e depois ninguém volte ao teatro”.
Há nove dias eu estava sem escrever neste espaço.
Na quinta-feira, agora, um cliente e amigo se matou. Estava com setenta anos.
Fernanda, perguntada sobre a fala que mais lhe marcou em toda a carreira, citou a de uma personagem que fez quando muito jovem. Por diversas vezes ao longo da peça e em diferentes circunstâncias ela esboçava uma expressão de desalento e dizia: “Ah, mãezinha, como dói... Ah, como dói...”
No fundo este post está construído por outra razão. Quem é íntimo sabe.
Até breve.

2 comentários:

  1. É dificil acharmos conforto quando estamos incomodados ou insatisfeitos, mas temos que juntar forças e seguir em frente.. mais um desafio do eterno desafio que é viver...estamos aqui, aí, juntos nessa caminhada. Bjos

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  2. "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e dai afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
    Coragem amigo. Abraço

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