quarta-feira, 3 de agosto de 2011

MANOEL II

Não é do meu feitio pegar coisas dos outros prá fazer pavãonices. Minhas limitações me bastam. Mas é que ler Manoel de Barros sem compartilhar é de um ruim sem limites. Confesso que se eu for até onde o poeta anuou (tem hoje 95 anos) quero ter parte de sua conhessência. Pura inveja, mas eu tenho.
Ele é nosso Guimarães Rosa do Pantanal só que fora de prosa, mais no meio de poesia, toda desarrumada dos conformes. Para ele o ofício de poetar é voar fora da asa. Toda vez acho que sofro disso um pouco. Até mesmo nas minhas andanças empresariais. Na vida comum não, aparento normalidade.
Sou privilegiado pelo acaso, quase de sempre. Nesse momento me deparo no cotidiano com algumas desafiências brabas. De por outro lado, me renovo, prá poder olhar de e para a frente. Estou condenado, desde menino, a não aceitar.
Deixo vocês de novo com Manoel. Essas coisas foram tiradas (do Livro Poesia Completa) assim desordenadas, fora de seus lugares, na medida em que me acometiam. Minha sensação é se embaralhá-las elas ainda fazem sentido. Toda hora você pode tirar uma e pensar uma légua.
Vai lá, então:
“Andando devagar eu atraso o final do dia.”
“Para saber as intimidades do mundo é preciso saber usar palavras que ainda não tenham idioma.”
“As coisas não querem ser vistas por pessoas razoáveis: elas desejam ser olhadas de azul  -  que nem uma criança que você olha de ave.”
“Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.”
“As palavras têm que adoecer de mim para que se tornem mais saudáveis.”
“O que resta de grandezas para nós são os desconheceres.”
“Morrer é uma coisa indestrutível.”
“As palavras continuam com seus deslimites.”
“É mais feliz quem descobre o que não presta do que quem descobre ouro.”
“Tenho mania de comparecer aos próprios desencontros.”
“Poderoso é aquele que descobre insignificâncias.”
“Tenho o privilégio de não saber quase tudo e isso explica o resto.”
“As coisas muito claras me nortunam.”
Quero fazer parte desse ideal, barulhar com esse ideário, lutar por esta ideologia. Minha bandeira ainda é despalavrar.
Até breve.

Um comentário:

  1. “Que hei de fazer se de repente a manhã voltar?
    Que hei de fazer?
    — Dormir, talvez chorar”.

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