terça-feira, 9 de agosto de 2011

ESTÔMAGO

Ontem assisti Contra a Parede na sessão das 22:00 hs do Cine Cult. Produção turco-alemã, rodada em Hamburgo e Istambul. A idéia aqui não é fazer uma crítica do ou ao filme, mas uma reflexão sobre a que ele remeteu-me: quão difícil tem sido a procura de algo que faça verdadeiramente sentido. Cahit e Sebil, vivem em Hamburgo, ele de raízes turcas com 44 anos de idade e ela também turca, muçulmana, de vinte. Encontram-se em uma clínica depois da tentativa de suicídio, ele tendo batido em uma parede de frente com seu carro em alta velocidade e ela cortado os pulsos. Enquanto estão na sala de espera para serem atendidos entreolham-se. Ele é chamado pelo médico que pergunta a Cahit por que ele quis se matar. Cahit responde com uma pergunta: quem disse que eu queria me matar?
Ele está no pátio da clínica e é procurado por ela. Ela implora que ele case-se com ela, para que ela possa ficar livre da tradição familiar. Ele diz que quando ela quiser se matar corte os pulsos no sentido horizontal e não vertical como ela teria feito. Ela diz que quer se casar, mas que eles não precisam transar, já que ela queria experimentar vários homens e ficar livre da família. Combinam um encontro à noite em um bar em frente à clínica. Lá ela volta a fazer o pedido a Cahit, que se case com ela, ele nega dizendo que não tem como se manter. Ela quebra uma garrafa sobre a mesa e corta novamente os pulsos. Ele rasga a toalha de uma das mesas do bar e enrola nos pulsos de Sebil e saem do bar desesperados. São expulsos de um ônibus urbano dizendo aos gritos ao motorista que o ônibus não é dele, mas da prefeitura.
Cahit procura um amigo e diz que vai se casar, caso contrário a mulher que ele encontrara na clínica iria se matar. O amigo tenta demovê-lo da idéia, Cahit diz que está decidido e convida ao amigo que vá com ele à casa da família de Sebil para pedi-la em casamento. O amigo apresenta-se a família (pai, mãe e irmão de Sebil) como sendo tio de Cahit que, por sua vez, apresenta-se como Gerente de uma fábrica. Na verdade Cahit é um zelador ocasional de uma fábrica. O pedido de casamento é aceito e eles se casam.
Na noite de núpcias Sebil pára na frente da porta da casa de Cahit e implora a ele que a carregue para dentro. Ele a joga sobre os ombros e a deixa sobre uma mesa repleta de restos de comida. Depois, aos gritos, manda que ela saia e que não lhe amole. Ela vai a um bar, seduz o barman com quem passa a noite.
As cenas sucedem-se com Sebil transando com diferentes parceiros, enquanto Cahit, droga-se e embriaga-se. Até que um dia eles estão na cama e começam a se acariciarem e Cahit começa a despi-la e ela diz que não fizesse aquilo porque senão ele tornar-se-ia o marido dela. Na sequência, ele está em um bar e diz aos gritos a um amigo que está apaixonado. De repente bate as duas mãos sobre copos em cima do balcão e o sangue jorra sobre os seus braços. Cahit vai para a pista e dança freneticamente.
Fui longe demais aos detalhes da narrativa, mas o filme é mesmo um soco na boca do estômago. Vale a pena ser visto completo já que o que eu trouxe aqui é o que se passa até a metade do filme.  Para o que pretendo, suficiente.
Quão graves têm sido as relações de afeto e quão difícil têm sido construir de fato uma perspectiva que implique em uma vida verdadeiramente humana. A contundência do entorno do casal em crise de existência e errância é avassaladora. A família, o Estado, a disponibilidade de álcool e drogas, o sexo selvagem e permissivo, o desemprego, a solidão urbana, a etnia, a religião, a marginalia, a banalidade do crime.
Pouco antes de iniciar o filme assisti a uma entrevista do diretor Daniel Filho ao ator Lázaro Ramos no programa Espelho do Canal Brasil. Daniel Filho disse na entrevista que é urgente fazer um filme de comédia, mas está muito difícil encontrar atores que façam palhaços. Há alguns anos, e ele citou vários, havia ícones que nos levavam às gargalhadas.
Daniel, acabamos também com nossos palhaços...
Até breve, que eu estou ácido.

Um comentário:

  1. Já dizia um sábio: La vie es tres competitive.
    Tem que ter muito, mas muito estômago!

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