quarta-feira, 26 de junho de 2019

DOR





Recebi de uma amiga o vídeo acima.

Não concebo a possibilidade de alguém que o assista e não experimente a sensação de mais profunda dor, indignação e, sobretudo, imensa preocupação.

Vivêssemos no seio de uma sociedade sadia, a divulgação deste vídeo seria suficiente para resultar numa ação generalizada de todos para que pudéssemos extirpar, de vez, a repetição de fatos como esse.

Não, a banalidade do mal é de tal monta e expressão que a epidemia que grassa não nos sensibiliza mais. Incorporou-se à paisagem da nossa bestialidade visceral e cada um desses episódios, mais do que corriqueiros, reduzem-se às estatísticas.

Não há conflito no planeta, por mais torpes e cruéis que sejam os motivos que os desencadeiam, que cobre tantas vítimas humanas como a nossa violência cotidiana.

Na mente trumpulenta americana, mesmo que em blefe, foi abortado recentemente um contra-ataque ao Irã tento em vista a possibilidade de ceifar a vida de 150 pessoas inocentes, o que corresponde a menos de um dia de produção de cadáveres brasileiros vítimas da nossa endêmica epidemia.

Matamos mais de 60 mil pessoas por ano, somos a sociedade mais assassina do planeta. Ninguém é mais violento, mais cruel, mais omisso, mais vil, do que cada um de nós brasileiros.

Há muito tempo sabemos e convivemos com essa tragédia civilizatória.

Estava no aeroporto ontem à noite, em retorno de viagem a trabalho, quando recebi o vídeo e, de lá para cá experimento sentimentos difusos e intensos. Minha tristeza é infinita e sinto uma vergonha íntima que faz doer minhas entranhas a ponto de não ter coragem de me olhar no espelho.

Minha impotência é daninha.

Junto a ela os equívocos dramáticos de quem se espera cuide daquilo que nossa combalida constituição assim o determina. No bojo das ações e decretos fica translúcida a nossa tragédia: que cada um se arme e se defenda.

Meu Deus, senhor de toda e qualquer potência, não me faça crer que somos os primeiros protagonistas históricos da cena apocalíptica.


Até breve.


OBSERVAÇÃO: Hoje recebi um pedido do Vlad, meu filho, para que eu retirasse o vídeo. Acato o pedido, mas mantenho o texto. As imagens contempladas no vídeo, em si, não serão tão dificeis de serem imaginadas por aqueles que não o assistiram.

6 comentários:

  1. Agulhô, a cena é chocante para mim, mas certamente muita gente acharia comum (como se fosse normal) nesse mundinho cheio de postagens de comidas, viagens e outras "vantagens". Não podemos nos conformar com tanta bestialidade, temos de gritar, nem que seja em respeito ao Martin Luther King, que lamentava (pedindo socorro): "O que me preocupa nao é o grito dos maus, mas o silencio dos bons". Abraço, meu amigo, e durma com Deus, se é que é possivel dormir depois dessa cena irracionalmente animalesca.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tardiamente, me refiz do golpe, embora ele ainda me ronde.

      Excluir
  2. Os humanos,... alguns donos de incrível sensibilidade, outros, uma decepção contínua...Um abraço. Elaine

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Kibon, Elaine ver seu comentário aqui. Brigado, querida.

      Excluir
  3. Que as pessoas nunca percam o poder se se indignar diante de situções assim . Muito bom saber que existe ainda tanta gente que pensa no próximo e se sensibiliza diante das crueldades deste mundo. Um grande abraço, sempre um prazer ler seus textos.
    Elaine.

    ResponderExcluir