domingo, 23 de outubro de 2011

AJUDA

A vida tem nos imposto alguns diz sabores. Obrigo-me, assim, a relatar os mais recentes. Primeiro, breve, já que freqüente. No sábado, dia 15, recebemos em nossa casa em Santa Luzia, para um capelete regado a vinhos, Sandra e sua mãe Emir, Gustavo e Mohana, Camila e Lindinho e nossa filha. Divertimos muito com quanto tem sido expressiva para Emir e Sandra a construção de suas casas, uma ao lado da outra, no nosso condomínio.
A obra já movimentou uma pá de terra elevando em quase dois metros os quatro mil metros quadrados de platô para uma obra de mil e quinhentos metros quadrados de área de construção, contando as duas casas e área de lazer com uma piscina infinita lançada sobre o vale. Emir e Sandra disseram-me que terão muitos motes para os meus posts. A mim interessa a conclusão das obras. Vai ser sacrificante sobrevivermos finais de semana quando, independentemente de sermos convidados, estarmos com elas.
Ouvimos, também, a saga de vinte e poucos dias que foi a viagem de Gustavo e Mohana à Alemanha e à Itália na companhia de tios maternos dela. Um horror hilariante, principalmente pela impagável forma de relatar do Gustavo: uma ópera bufa.
Na quinta-feira, 20, voamos Azul ao meio-dia para Porto Seguro e, no aeroporto, fomos recebidos por Bira o motorista que nos levou ao Arraial d’Ajuda para a casa de WCA e Ana, onde passamos o final de semana na companhia ainda de RIJ, PRZ, FTA e Clara.
Ana, a dona da casa, foi quem nos recebeu. Com sua imensa antipatia e péssimo humor peculiares, nos saudou aos gritos. WCA só chegou á noite junto com os demais. Ana nos mostrou a casa. Foi ela quem acompanhou a construção, recente. Cada coisa pensada e executada com uma propriedade, bom gosto e carinho ímpares. Casa de autor. Para nós, Ana reservou uma das três suítes do segundo andar, acomodação esquisitíssima, no sentido espanhol (já, já entenderão porque).
Tipo quatro horas da tarde almoçamos os três: Ela, Ana e eu. Restaurante Rosa dos Ventos, um badejo envolto em folha de bananeira, apenas para sinalizar como seriam os próximos dias. Uma irmã de Ana perguntou, ao final de uma temporada na casa de WCA e Ana, se poderia embarcar no avião coberta por uma canga, já que havia engordado a ponto de suas calças compridas não lhe servirem mais.
Depois do almoço passeamos pelo comércio da Rua Mucugê. Em uma das lojas a TERIMA KASSIH, cuja tradução livre para o português é muito obrigado, voltamos todos os dias. Móveis, adornos, tapetes e outras maravilhas importadas da Indonésia distribuídas em dois andares. Um show. Mesmo para quem não gosta terá que reconhecer que há muita arte e exotismo em todas as peças, especialmente aquelas cunhadas em madeira. Senti um tremor de plástico no meu bolso cada vez que adentrei o estabelecimento. Estamos, como sabem, em estado de reforma de apartamento.
WCA, PRZ, FTA, Clara e RIJ chegaram perto das 23:00 horas. Aí, como diz a madre superiora: fudeu! Clara, já naquela hora, iniciou seu repertório de piadas. Mais obscenas, impossível. FTA, todo pegajoso, nos lambendo; PRZ cadê a Seleta (caninha, para quem não sabe) e RIJ saltitante em seus recentes 50 ou 51 quilos. WCA, o dono da casa: Pô, que maravilha! Pô, que maravilha... Vocês estarem aqui...
Passada a intensidade da chegada a idéia foi de jantarmos uma carne com inhoque no Restaurante Manguti, mas o encontramos fechado aquela hora. Melhor, porque rolou uma pizza no La Morocha, um tipo pub com banda cover dos Beatles de arrepiar.
Na sexta-feira, logo cedo, fui intimado pelo PRZ a conhecer sua fazenda a uns cem quilômetros de distância do Arraial. Dirigindo o carro ele foi relatando a facilidade com que amealhou o patrimônio pecuário. Desde a década de 70 ele comparece à região onde já teve duas outras propriedades antes da atual. Viajava, naquelas épocas, uma penca de horas em ônibus de Salvador até ali, nos finais de semana, saindo as sextas, chegando aos sábados e saindo aos domingos. Uma luta. Não havia acesso à propriedade e por várias vezes teve que cobrir o percurso de 4Km a pé. Dez milhões de reais de valor de patrimônio depois, PRZ virou um menino quando chegamos à fazenda. Que alegria do cara em mostrar-me o que realizou dentro dos 16 Km de perímetro de sua terra desejada aos longo dos últimos quarenta anos. De lá, já no final da tarde, trouxemos um carneiro já temperado pela Marinalva, esposa do Aílton, os administradores da fazenda. Ovos caipira, leite, massa congelada de graviola para suco e dois cachos de coco.
Ao chegarmos, encontramos FTA e WCA em estado lastimável. A turma nos esperava para o almoço, isso quase seis horas da tarde. FTA, apesar do estado avançado de ingestão alcoólica, preparou duas caçarolas de camarão ao alho e flambadas com conhaque espargido pelo WCA. Um perigo! Tinha mais álcool no fígado dos caras que na garrafa de conhaque recém aberta.
Mais tarde, as moças saíram ao comércio, nos encontrariam para jantar no Maguti, afinal a carne com inhoque. Fomos sem o WCA, ele deu perda total, deixamos o cidadão escornado em um dos sofás da sala. Eu e PRZ, monitoramos o percurso inenarrável de FTA até o restaurante. Quando chegamos ele procurava sua Clara aos gritos: Cadê minha mulher... Cadê minha mulher...
Na manhã seguinte, durante o café da manhã, rimos muito dos ocorridos da noite anterior. WCA relatou, por exemplo, que de repente se viu acordado e supostamente lúcido: estava pronto para outra. Fomos todos à praia e esbarramos no bar do Néo e da Dina. Dina, a gourmet, é de Guaratinga, terra da fazendo do PRZ. Saímos de lá nutridos de um peixe frito e um arroz de polvo esquisitíssimos. Alí, no bar, Ana encontrou Paula, uma chilena artesã que vendeu para as meninas essas pulseirinhas de tornozelo que passaram a ser a credencial para adentrar a casa de WCA e Ana. Esquisito foi trazido por Paula: em espanhol quer dizer especial, delicioso....
Encerro aqui o relato, apesar de tantos contares ainda serem necessários até a partida de volta, porque o post está a serviço de um propósito: qual o sentido da vida, uma pergunta que acomete-me desde o primeiro post para memorar os meus sessenta anos.
Pedi a Clara e a RIJ que me dessem um mote para o blog. Uma e outra, em que pese por vias distintas, provocaram-me: riqueza. A vida se faz pela via do vínculo, da relação com pessoas como WCA e Ana, PRZ e RIJ, FTA e Clara, que há mais de vinte e cinco anos de convivência nos ajudam a tirar o melhor da vida. A eles, nosso:
TERIMA KASSIH!
Até breve.

5 comentários:

  1. AGULHÔ
    PARABENS PELO NOVO RELATO , MAS TENHO QUE DORMIR CEDO , POIS TENHO QUE APROVEITAR PARA DURMIR ENQUANTO O NETINHO NÃO CHEGA , POIS QUAL O SENTIDO DA VIDA , SE NÃO , SEGUIR JUNTOS O CAMINHOS DOS FILHOS E """"" NETOSSSSSS"""""

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  2. Gostaria de sugerir um mote para o blog: Sacrifício.
    abraço, Julio

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  3. Há alguns anos dei para esse meu amigo um caderno ... daqueles bonitos , com folhas de papel reciclado ..coisa chic ...com cara de presente de aniversário ...não se falava em blogs na época ,...junto com o caderno dei a ele a responsabilidade para registrar histórias ...algumas nossas histórias ...vejo que o destino se cumpriu mais uma vez !!liz

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  4. Querido amigo,
    Foi um privilégio passarmos o fim-de-semana juntos e com nossos amigos de quase 40 anos. Seu relato revive, sempre que leio (e já é a 3a. vez), toda a emoção que senti e a alegria por ter amigos queridos compartilhando a minha vida.Bjs da Clara.

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  5. Trata-se da minha primeira manifestação, graças ao "dia do servidor", feriado que agracia todos aqueles que prestam relevantes serviços ao povo, no meu caso, os jurisdicionados. É óbvio que tal pronunciamento somente se faz possível, porquanto na minha próspera comarca - incomparável Santa Luzia/MG -, aliás, frise-se, infinitamente superior à todos os cantos e grotões da superpotência Alemanha, existe uma "Lan House", onde, solitário, posso, por volta das três horas da tarde de uma sexta-feira ensolarada, render os melhores elogios ao meu dileto e, igualmente, INCOMPARÁVEL amigo: AGULHÔOOOO. Parabéns pelo blog, que retrata, fielmente, o senso de humor e, ao mesmo tempo, crítico, de seu titular. Abraços. Gustavo.

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