terça-feira, 6 de abril de 2021

LENTE



 



Não vivemos experiência de guerra, conflito bélico de larga expressão. Não vivemos sob bombardeios aéreos, invasões de domicílios com fuzis automáticos e baionetas caladas. Não vivemos uma guerra química e/ou Napalms cruéis. Não experimentamos ocupação de território e perda de espaço e liberdade açodados por inimigos externos.
Não temos experiência de guerra. Do horror que deve ser viver em Síria, Iêmen, Sudão do Sul, Líbia e outros que neste momento estão em conflitos armados.
Algumas vezes em textos comentei sobre pesquisa que tive acesso realizada por consórcio de universidades americanas e europeias. Consultaram pessoas em 165 países sobre o que elas mais temem.
A potencialidade de uma guerra nuclear, a irreversibilidade da fome e a ausência de líderes que sejam capazes de enfrentar os desafios colocados no contemporâneo. Nesta ordem, foi a síntese dos resultados.
O maior terror global talvez não nos acometa, mas estamos diante de algo provavelmente mais avassalador, face ao inimigo que se apresenta universalmente, sobretudo pela sua configuração física e material. Sua invisibilidade e mutação o torna sistemicamente incontrolável e não há fronteiras que casamatas ou trincheiras defendam.
O inimigo presente escancara as nossas fragilidades civilizatórias e de organização social de forma patente e absoluta. Ainda que tenhamos evoluído magistralmente em pesquisas científicas e farmacológicas não fomos capazes de atenuar nossa ignóbil e ignorante exploração da natureza implicando em consequências terríveis para a vida sobre o planeta.
A guerra que está posta é silenciosa e sem escombros. As vítimas não se esvaem em sangue e não têm seus corpos esfacelados. A morte se dá, quase sempre, por asfixia.
O inimigo nos tira o sopro divino.
E para alarmar mais e nos colocar sujeitos a sintomas psicotraumáticos impensáveis para os quais a clínica deslisa, a segunda e terceira questões aterrorizantes apontadas acima tomam contorno de realidade inquestionável.
A fome é nossa maior tragédia e ela se amplia de forma aguda e rápida.
A História, pelos seus desígnios, não nos legou uma pessoa, ou um grupo de pessoas capazes de se colocar diante da complexidade, extensão e profundidade das variáveis que compõem o problema presente e futuro próximo.
Localmente estamos absortos e ocupados, histérica e esterilmente, com questões trazidas de um passado imediato, em que as realidades não contemplavam o inimigo que nos ronda e que é vital considerar.
É passada a hora de nos concentrarmos em aglutinar forças que olhem para o que se apresenta com espíritos desarmados, visão universalizante, acolhimento de análise de realidades objetivas e confirmáveis pelos melhores métodos a disposição.
Vamos precisar de todo o Mundo e é esta imperiosa condição que pode tornar mais dramático o desfecho.


Até breve.

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