Recentemente assisti a dois espetáculos.
Sim, espetáculos.
O Céu da Língua, do Gregório
Duvivier e A Alma Imoral, do Nilton Bonder, com a Clarice Niskier.
Ambos, tributo à Palavra.
Pra quem gosta de olhar para palavras,
se deliciam.
Duvivier e Clarice dão conta do
convite. Vale a pena olhar para palavras e no quanto elas se transformam.
Até em Deus. Sem palavras não
existiria Deus. Até hoje Deus atende pelo nome: A Palavra.
Na origem de todas as
palavras, tinha um poeta. A primeira pessoa que falou em céu da boca era um
poeta. A segunda, era um dentista.
Eu só consigo existir graça às
palavras. Em cima delas. Tenho por elas um amor tátil. Moro nesta ilha do verbal,
em que tudo tem nome. E vejo à minha volta um oceano interminável das coisas
sem nome. É lindo, mas não tenho coragem de mergulhar.
Não sei nadar.
A única coisa que sei fazer é
aumentar os limites do mundo aterrando o oceano com palavras novas, colhidas de
outras línguas.
Nem toda palavra nasce do
roubo, no entanto. Às vezes elas nascem aqui mesmo, na nossa frente. E o nome
disto é metáfora: quando uma palavra nasce da costela de outra.
Eva, por exemplo.
Assim, tudo o que hoje é banal
em algum momento já foi cortante. Para isto servem os poetas: para criar
metáforas novas, que voltam a cortar.
A abertura do Mar Vermelho,
conforme descrito na Bíblia em Êxodo, foi um evento em que Deus usou um
forte vento oriental para dividir as águas, criando um caminho seco para que
Moisés e os israelitas pudessem escapar do exército egípcio. Após a
travessia do povo, Moisés estendeu a mão novamente e o mar se fechou sobre os
egípcios, que foram afogados.
O primeiro que tentou entrar
na água, descreu. Deus disse: “Marchem!”
Pois é.
NOTA: Boa parte destas
palavras foram roubadas do texto do Gregório e do Nilton. O resto são
metáforas.
