terça-feira, 18 de novembro de 2025

OCEANO

 



Recentemente assisti a dois espetáculos.

Sim, espetáculos.

O Céu da Língua, do Gregório Duvivier e A Alma Imoral, do Nilton Bonder, com a Clarice Niskier.

Ambos, tributo à Palavra.

Pra quem gosta de olhar para palavras, se deliciam.

Duvivier e Clarice dão conta do convite. Vale a pena olhar para palavras e no quanto elas se transformam.

Até em Deus. Sem palavras não existiria Deus. Até hoje Deus atende pelo nome: A Palavra.

Na origem de todas as palavras, tinha um poeta. A primeira pessoa que falou em céu da boca era um poeta. A segunda, era um dentista.

Eu só consigo existir graça às palavras. Em cima delas. Tenho por elas um amor tátil. Moro nesta ilha do verbal, em que tudo tem nome. E vejo à minha volta um oceano interminável das coisas sem nome. É lindo, mas não tenho coragem de mergulhar.

Não sei nadar.

A única coisa que sei fazer é aumentar os limites do mundo aterrando o oceano com palavras novas, colhidas de outras línguas.

Nem toda palavra nasce do roubo, no entanto. Às vezes elas nascem aqui mesmo, na nossa frente. E o nome disto é metáfora: quando uma palavra nasce da costela de outra.

Eva, por exemplo.

Assim, tudo o que hoje é banal em algum momento já foi cortante. Para isto servem os poetas: para criar metáforas novas, que voltam a cortar.

A abertura do Mar Vermelho, conforme descrito na Bíblia em Êxodo, foi um evento em que Deus usou um forte vento oriental para dividir as águas, criando um caminho seco para que Moisés e os israelitas pudessem escapar do exército egípcio. Após a travessia do povo, Moisés estendeu a mão novamente e o mar se fechou sobre os egípcios, que foram afogados. 

O primeiro que tentou entrar na água, descreu. Deus disse: “Marchem!”

Pois é. 

 

NOTA: Boa parte destas palavras foram roubadas do texto do Gregório e do Nilton. O resto são metáforas.